Este blog destina-se ao contato entre pilotos da "velha guarda", preparadores e simpatizantes, à publicação do Jurassic News e para troca de comentários e emissão de opiniões pessoais.



















segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

JURÁSSICOS EM TARUMÃ ... Sim, eles voltaram...


          Caros amigos Jurássicos e do nosso Blog!

          Já disse alguém em algum tempo, que a aposentadoria não significa o fim dos sonhos.
          Para corroborar o dito, no grupo dos Jurássicos este sonho de voltar a pilotar um verdadeiro carro de competição, se fez presente e tomou volume.
          Na realidade, alguns até sonhavam que estavam pilotando suas máquinas de dez, vinte ou mais de 30 anos passados, fazendo-se necessário que algum movimento vingasse para tornar realidade.
          E a realidade estava dentro de nossa própria confraria: equipe MC Tubarão e Eurobike, liderada por nosso confrade Carlinhos Andrade, juntamente com os filhos Né e Tiel, além de uma figura cujo antepassado próximo e ícone do automobilismo de competição no Brasil, que foi Chico Landi; falamos de Ricardo Landi, que é filho de Roberto Landi, primo de Chico, que carrega sem dúvidas o DNA do primo pioneiro.
          Além destes, Victor Steyer, também nosso confrade, grande piloto, professor e atualmente atuando como manager em equipes de competição se fez presente levando seus conhecimentos a nos auxiliarem na retomada da pilotagem.
          Um pequeno grupo, formado pelo Nico Monteiro, Chico Feoli, Rudolfo "Zuio" Rieth e este Coordenador, foram até Campo Bom levando as nossas intenções de voltarmos a pilotar viaturas de competição, onde nossa idéia foi muito bem recebi, aprovada e levada aos responsáveis pela Eurobike, que além de também aceitarem a idéia, facilitaram o possível para que nossa andada tivesse sucesso.
          Na verdade, tudo isto é parte de um grande plano da criação de uma inédita categoria de Masters, basicamente para ex-pilotos que tenham idade igual ou superior a 60 anos e que tenham parado de competir no mínimo a 10 passados (nada definitivo, os estudos ainda são preliminares), atividade esta que a exemplo de outros esportes, trazem verdadeiras multidões aos locais de competição, ávidos por reverem o desempenho de seus ídolos do passado, não importando que a idade pese e possa tolher a performance dos talentos.
          Com a Eurobike e a equipe MC Tubarão dando bandeira branca a este início, que pode representar a chave de abertura das portas de uma grande categoria, este pequeno grupo aguardou ansioso o domingo à tarde, dia 28 de novembro, onde ficou marcada a data para o evento.
          E o domingo chegou!
          Se me permitem, a partir deste momento, faço uma narração pessoal para poder melhor fazer chegar aos amigos o que vivemos:
          Ao meio da tarde, Nico Monteiro (63), Chico Feoli (68), eu (73), mas os recém aderentes, Paulo Trevisan (62) e Walter Soldan (62), demonstrando muita confiança e satisfação, estávamos em Tarumã, onde recebemos nossos equipamentos pessoais, como macacões, bala clava, luvas e capacetes da equipe MC, "mais felizes que guris de bombacha nova", partimos logo a seguir para um rápido e descontraído "briefing" dirigido pelo Carlinhos Andrade.
          Finda esta etapa, caminhamos em direção aos Volvo C 30 da Escola Eurobike, preparados cuidadosamente visando segurança, mas com desempenho e comportamento de um verdadeiro carro de corridas; os Volvo Eurobike tiveram a potencia de seus propulsores elevada para 180 HP, foram equipados com injeção Motec além outros preparos; o câmbio é robusto e embora não tenha a 5ª marcha encurtada, é bem escalonado para andar em Tarumã, e uma suspensão muito bem feita que permite tranqüilidade ao piloto; os pneus eram radiais de uso e medidas normais para os Volvo.
          Pela ordem numérica para que possamos ser identificados, Nico Monteiro assumiu o nº 2, Paulo Trevisan o 5, Walter "Magro" Soldan o 6, Chico Feoli com o 9 e eu com o nº 8, assumimos nossos postos.
          A primeira missão foi tomarmos contato com um moderno painel de instrumentos e sermos "afivelados" aos assentos sempre assistidos por algum componente da Equipe MC Tubarão. Pelo volume do meu peso que ultrapassa facilmente os 3 digitoss, a adaptação ao habitáculo do piloto foi um pouco demorada, mas valeu a pena, pois quem iniciou a pilotar no final da década dos anos 50 do século passado (putzzzz..... como sou antigo!!!) vestindo calça e camisa comuns ou macacão de brim, sem cinto de segurança, sem gaiola de segurança e quando muito um "Santo Antônio" feito de cano curvado, o que eu dispunha naquele momento de equipamento pessoal e de segurança do Volvo Eurobike nº 8 me fazia sentir muito bem.
          Para adaptação as viaturas, o limite de giros ficou estabelecido em 4.000 RPM para as cinco primeiras voltas, o que determinava que a 5ª marcha seria nossa companheira muito assídua durante estas cinco primeiras voltas que foram liberadas.
          Tão pronto a luz verde da saída dos boxes apareceu, o "Magro" Soldan se mandou para a pista seguido do Chico, do Trevisan, do Nico e eu de propósito restei para encerrar a fila: acionei o botão de partida do propulsor recebendo em resposta o som de um ruído forte produzido pelo escapamento; engatei a primeira marcha e deixei o Volvo rolar pelos pits com o meu ser a se deliciar com aquele momento histórico de prazer a tanto esperado e possivelmente, do alto dos meus 73 anos, me tornar o piloto de idade mais avançada a pilotar uma viatura de competição no Brasil.
          Tão pronto transpus a luz verde engatei a segunda marcha e fiz o giro subir até o limite de 4000 RPM no acesso a pista, já me concentrando na condução daquela maravilhosa máquina: venci as demais curvas procurando absorver rapidamente as reações do Volvo, pois a hora da verdade havia chegado quando abri a primeira volta completa, logo após a aproximação da curva 1.
          Diga-se de passagem que da última vez que havia pilotado em Tarumã ao final dos anos 70, o grip da pista melhorou uma barbaridade, as áreas de escape melhoradas e algumas curvas alargadas como a 2 que no somatório de melhorias permite uma pilotagem mais tranqüila e melhores tempos, mesmo se sabendo que Tarumã é uma pista muito técnica, que demanda coragem e atenção continuas, ou o tempo na vem.
          Logo de início me maneiei um pouco com a pedaleira motivado pelos meus "pés de anjo" de tamanho avantajado, mas logo a seguir já havia acertado com os mesmos, principalmente com o da direita a quem cabia transmitir meu impulso ao acelerador e ao freio.
          A força do forte propulsor empurrou o Volvo pelo mergulho da curva 1 já deixando a viatura alinhada com a pequena reta entre a 1 e 2, facilitando a aproximação e a tomada da 2, que foi feita na quinta marcha e logo a seguir a curva 3, deixando ver a pequena reta que antecede a curva do Laço, com sua freada e redução para 4ª marcha.
         Logo na saída do Laço o giro atinge o limite e a quinta é acionada imediatamente, percorrendo o mergulho até o complexo de curvas do Tala (sempre foi minha dificuldade); na entrada da primeira perna "encosto" a quarta marcha e me concentro mais ainda para não deixar o Volvo desgarrar para a esquerda tocando levemente na lavadeira externa;
          Faço em segunda a 5ª e a curva oito é feita com tranqüilidade (pois a velocidade ainda não é muita); trago o Volvo para a tomada da 9 e cheio de coragem, sem tirar o pé do acelerador contorno a mesma saindo dela tangenciando a lavadeira da direita e apontando resoluto para a reta dos boxes; neste momento, sinto pela primeira vez que meu peso de 3 digitos atrapalha até mesmo os 180 HP do propulsor, mas, "é o que temos a oferecer" e assim me aproximo da tomada da 1 novamente, não sem antes aproveitar o tempo da reta para analisar a primeira volta e chegar a conclusão que havia sido tranqüilo, embora com o tempo de volta muito alto.
          Resolvo fazer uma segunda volta nas mesmas condições para adquirir mais conhecimentos do caro e da pista; foi legal a segunda volta, sem sustos.
          Ao fechar da 2ª volta, resolvo que havia chegado momento de arriscar mais e o fiz instintivamente; e aí começaram a aparecer minhas deficiências do afastamento de mais de 30 anos das pistas.
          Comecei errando freada do Laço, retardando-a em demasia; foi um "Deus nos acuda" para não deixar o Volvo ir para as latas; respiro fundo e me lanço no mergulho do Tala disposto a não errar e não deu outra outra: erro novamente a tomada e por conseguinte tudo sai errado até alinhar novamente para a oito.
          Fecho a terceira volta e digo comigo mesmo: "desta vez não vou errar", e aí acontece um fato saliente: o Soldan e o Chico que haviam saído bem antes de mim dos boxes, vem ambos em uma tocada forte mesmo limitada pelos giros, encostam e me ultrapassam, sinalizando que eu estava mais lento que os dois.
          Até aí nada de novo, pois ambos são reconhecidamente fortes tocadores; o que me invoquei, é que duas semanas antes havia andado na pista de Tarumã com o meu Focus de rua, viatura muito equilibrada e com plataforma igual a dos Volvo, e havia me sentido muito bem e seguro, o que me levava a crer que no Volvo preparado as coisas correriam melhor, mas não foi bem assim.
          Apesar de não termos largado juntos dos boxes (ambos mais adiantados), mesmo não tendo a preocupação em marcar tempo ou de provar alguma coisa que não necessito, pois tenho comigo as glórias do passado, ninguém gosta de tomar volta, mesmo que seja de teus amigos.
          Assim, encerrei a primeira bateria de 5 voltas, meio chateado, mas com a convicção de que melhoraria o desempenho para a segunda bateria de mais 5 voltas com o giro liberado até 5000 Rpm. Soldan, Chico e Trevisan comentaram que haviam se sentido muito confortáveis na pilotagem, mas o Nico também sentiu um pouco as mesmas dificuldades que as minhas.
          O Carlinhos e sua equipe, mais o Steyer nos fizeram observações e lá fomos nós para a segunda bateria: novamente Soldan e Chico se mandaram, já com o Trevisan se assanhando em acompanha-los de perto.
          Com mais giros, algumas coisas se modificaram, como o Laço agora podendo ser feito em 3ª marcha, na saída a 4ª propiciando mais velocidade no mergulho para o Tala, na oito e passar a 4ª na tomada da 9, antes feita em quinta; optei pelo 4ª marcha na boca da nove pois facilitaria a subida da reta dos boxes contrapondo-se ao meu conjunto carro-piloto mais pesado; logo onde iniciam os boxes o giro atingia os 5000 e a quinta era feita permanecendo até o Laço novamente.
          Os tempos melhoraram bastante, principalmente para o Chico, Soldan e Trevisan, como também para o Nico e para mim; entretanto, continuei a não me acertar com a minha desafeta de longa data, a curva do Tala, perdendo bastante em relação aos amigos.
          O Soldan veio se enfezando mais e mais, e tomou um enorme de um susto na chegada do Laço, pois retardou um pouco a freada, o que o forçou a apertar tudo que tinha direito nos alicates do freio e usar o que sabia para não deixar a preciosidade ir para as latas.
          Enquanto isto, o Chico e o Trevisan andavam rápido e seguros; Nico e eu, virávamos o mesmo tempo, porém mais lentos que os primeiros.
          Ao final da segunda bateria de 5 voltas, cheguei a conclusão que tinha que parar de "brigar" com o Volvo, que indiscutivelmente "andava mais do que eu".
          Sem qualquer comparação, como também pela estelar distância que separa o retorno do Schumacher a pilotar um Fórmula 1 e o meu modesto retorno, compreendi na pele um argumento que o Chico sempre repete ao discutirmos as dificuldades do hepta campeão em conseguir melhores tempos, que é o tempo que ficou afastado das pistas somado a alucinante evolução das viaturas de competição, pneus etc....etc.... criam barreiras imediatas; certíssimo o Chico.
          Novamente, assumimos os carros e partimos para a terceira e definitiva bateria final de cinco voltas. Desta vez, com a adrenalina mais baixa, mais tranqüilo e já mais acostumado ao Volvo nº 8 da Eurobike, voltei a pista cometendo menos erros, melhorando um pouco meu tempo de volta, mas ainda sem acertar o Tala e por estar um pouco mais rápido, errar um pouco a freada do Laço.
          Pelo menos parei de chamar a pista de "minha senhora" e o Volvo de "Sua Excelência", mas inda com muito a ser melhorado.
          Pelas fotos pode-se ver a tocada forte do Chico, do Soldan e do Trevisan, sendo que o segundo fazia poeira levantar em alguns extremos da pista, com o Nico e eu a secunda-los meio de longe.
          As melhores marcas do dia ficaram ao redor de 1'25" para o Soldan e o Chico, seguidos por pouca diferença pelo Trevisan, cabendo uma maior distância para os tempos do Nico, e eu, como já desconfiava de antemão fiquei com o derradeiro tempo de 1'29" alto, que não me retirou o entusiasmo de voltar novamente a Tarumã, já com a certeza de melhoria de tempo e de trazer mais companheiros para que sintam a intensa alegria do retorno.
          Repito, que sinto também uma pontinha de orgulho por ser talvez, salvo equívoco, o piloto mais velho que hora volta a atividade no Brasil.
          Encerro este relato, que poderia ser alargado muitas vezes, tamanha quantidade de detalhes registrados e que não puderam ser aqui colocados, agradecendo uma vez mais, ao Confrade Carlinhos Andrade, seus filhos Né e Tiel, ao Victor Steyer, ao Ricardo Landi, a toda restante equipe MC Tubarão, e um agradecimento muito especial a Eurobike, por terem aceito nossa solicitação e por facilitarem para que pudéssemos efetuar nosso sonho de retorno, bem como ajudar a dar a partida na caminha da criação de uma categoria inédita de Master's no cenário brasileiro.
          Ficamos na espera das 12 Horas de Tarumã no próximo final de semana.

          Roberto Giordani.

                             Trevisan, Soldan, Giordani, Nico Monteiro, Chico Feoli 
                                                                Carlinhos Andrade
                                                                       SOLDAN
                                                                  TREVISAN

 
                                                             CHICO FEOLI

 
                                                          NICO MONTEIRO
                                                                      GIORDANI











7 comentários:

Leandro Sanco disse...

Grande, Giordani! Desde que passei a integrar esse grupo de amigos e entusiastas, percebi a tua vontade de retornar ao comando de um carro de competição. E que retorno, meu amigo! Que relato! Podes ter certeza de que tu nos levaste junto no banco do carona. Parabéns pela iniciativa e determinação de todos para tornar esse dia realidade.

Um grande abraço,
Sanco

Carlos Alberto Petry disse...

Giordani, qundo li teu relato da tua tentativa de estréia na "Pedra Redonda" com um Buick, teus relatos passram a ser unm delícia que me é oferecida de quando em vez. Mois uma vez tua veia literária me "colocou" na pista, te juro que eu ouvi o ronco do C30 que pilotavas.
Por outro lado, tu o Chico, o Soldan, o Trevisan e o Nico, são motivo de inveja (da branca gente) de muito piloto desativado. Este termo desativado é para não dizer ex-piloto, e quem me ensinou isso foi o Trevisan, que me disse que ex-piloto não existe.
Um abraço a todos

Roberto Giordani. disse...

Bom dia Petry!
Obrigado pelos teus comentários.
A intenção é trazer o máximo possível de pilotos de nossa época de volta às pistas; vem te juntar a nós, e tantos quanto desejarem
Um grande abraço.
Giordani.

Anônimo disse...

Parabéns Giordani,muito bom ver feras como vcs,aí acelerando de novo!!!!!!abraçao

Eduardo Miler disse...

Parabens Sr. Giordani...Relato maravilhoso de um dia mais ainda...Com certeza o "lastro" do #8 era a presença de todos nós, que lemos e adoramos e estivemos junto no banco do carona...Assim justifica, com certeza o tempo de 1:29...Primeira visita de muitas outras à esse blog...Obrigado pela carona...Abraços

Niltão Amaral disse...

Então?!

Prontos para voltarem em definitivo, na Classic?!

Estamos esperando vocês.

Abraço,
Niltão Amaral.
http://blogdopassatao.blogspot.com
http://twitter.com/automobilismors

Lumena disse...

Anos depois, acabo de ouvir essa História, no Museu do Automobilismo Brasileiro, por Paulo Trevisan.
Um privilégio.