Este blog destina-se ao contato entre pilotos da "velha guarda", preparadores e simpatizantes, à publicação do Jurassic News e para troca de comentários e emissão de opiniões pessoais.



















quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

THE RED 88 - BACK ON THE TRACK

          Caros amigos !
          Foi indescritível o prazer de poder voltar a pilotar em Competição uma viatura como a fiel reprodução do DKW 88 executada por estes dois verdadeiros heróis que são Teodoro e o "rebento" Gabriel.
          Ambos trabalharam arduamente para que pudesse fazer-se ouvir o som alto, forte e consistente no seu retorno às pistas: Oscar Leke e o Horst Dierks igualmente engajaram-se ao projeto dando seus conhecimentos na melhoria do mesmo.
          Este 88 tem preparação tão avançada e em alguns itens até mesmo mais desenvolvidos que o seu antepassado, porém uma coisa é insuplantável : o charme e o visual do mesmo, que levaram diversas pessoas irem aos boxes, colherem fotos e iniciarem longos papos conosco, sempre com respeito ao DKW-Auto Union.
" La macchina " :
          Tudo foi comparado com o 88 quando de sua última corrida como viatura de competição e repassado ao novo 88 com evoluções consideráveis.
          Chassis : aliviado, com alguns componentes em fibra ou plexiglass, e se não fosse o peso do " Santo Antônio " e do extintor do incêndio poderia pesar tão somente os 780 quilos do seu "avô". A pintura ficou bárbara de Vermelho Ferrari ( só poderia ser ).
         Suspensão : bastante modificada que a do avô, com a traseira completamente travada como dos modernos carros de Turismo. A dianteira recebeu novas configurações que permitem dizer que o carro não sai de frente. Acredito que ainda há o que evoluir em ambas partes da suspensão, sendo o que faremos no próximo ano quando retornarmos para auxiliar no desenvolvimento do carro.
          Câmbio : muito bem escalonado com a primeira marcha ficando a original para poder arrancar, com a 2ª marcha alongada para o lado da 3ª que ficou normal, e a 4ª marcha encurtada para o lado da 3ª original.
         O diferencial é de passo médio, havendo recurso ainda para encurta-lo ou alonga-lo.
          Propulsor : o tão esperado motor de corrida saiu melhor que se esperava. Comparado com os motores finais do "avô" pode ter uns 10 HP a menos, porém as modernas configurações das janelas e transferências, aliadas a uma potente carburação tripla Solex 45 ( 2 + 1 ) deram ao motor do "neto" potência necessária em baixa, média e alta, diferente do avô que tinha uma alta que fazia inveja a qualquer motor da época e te dava "um pataço" nas costas quando entrava, porém mais difícil de pilotar e manter o regime de rotações sempre na faixa de potência.
          Tanto assim é, que a exemplo do antigo 88 que fazíamos 2ª marcha no Laço, a caixa do moderno foi copiada e pasmem, não usamos a 2ª, porque o motor permitiu que fizéssemos o Laço na 3ª marcha e saindo "cheio", poupando tempo em poupar dois câmbios somente ali na chegada e saída do Laço.
          Situação semelhante na condução da viatura na entrada e contorno da curva 9 em que articulávamos cambiar para 3ª marcha na boca da 9 para termos saída forte e boa velocidade na subida, mostrou-se desnecessária, pois foi possível fazer a 8 + a tomada e contorno da 9 + reta dos boxes + curva 1 + curva 2 e 3 até a chegada da freada do Laço na boa e curta 4ª marcha, poupando assim mais dois câmbios.
          Na verdade, esta situação foi praticada pelo Chico, pois meu peso corporal " recomendou " fazer a 3ª marcha na boca da 9 para poder "empurrar" a minha sobrecarga na subida : entretanto, como disse, o motor é tão cheio que antes de findar as lavadeiras da 9 já fazia a 4ª marcha.
          Com o tempo e melhor adaptação ao neto 88 tenho certeza que conseguirei fazer a 9 na 4ª marcha.
          O regime de rotações dentro da curva de potência anda fácil de 6 até 7 mil giros, " escapando" por vezes acima deste regime e chegando perto dos 8 mil.
          Sem dúvidas o "velho" Horst Dierks continua tão bom ou quiçá, melhor que a 40 anos passados.
          Pneus : Ahhhh.... os pneus. Tenho acompanhado de perto as evoluções de pneus, procurando estar informado dos mesmos, porém, nunca imaginei que houvessem pneus radiais como os Yokohama com tal comportamento e que me atrevo a dizer muito semelhante aos bons sliks.
          É sabida a dificuldade de dominar a traseira do DKW em qualquer tipo de curva, que até motivou uma frase do Jan Balder : " esqueceram de fazer a apresentação da traseira do DKW com o asfalto da pista ", tamanha é esta dificuldade.
          Entretanto, parece que os pneus da Yokohama serviram de anfitriões e "apresentaram" as partes, uma vez que "colaram" a traseira do neto 88 anulando saídas traiçoeiras e ainda permitindo utilizar uma "forçadinha" de saída de traseira para facilitar a vida.
          De saída, por desconhecermos a nova suspensão traseira e principalmente a calibragem que deveríamos usar dos pneus " apanhamos " um pouco, pois saímos para o treino de 5ª feira dia 8 com 35/40 que seria o usual: entretanto, levamos um susto em cima do outro, e até rodada de pista tivemos, pois com esta calibragem os pneus não aqueciam, que é condição primordial de eficiência.
          Partimos para a retirada de ar, até chegarmos a espantosos abaixo de 30 libras e aí sim, os Yoko começaram a mostrar porque são bons mesmo.
           Freios : mais uma obra prima do Horst : embora um pouco pesado, demonstra jeito de agüentar bastante e eficiência das mais notadas.
           Os Treinos : Confesso com muito orgulho que somos organizados, provendo passo a passo o desempenho do neto 88, até mesmo porque era preciso nos adaptarmos ao carro depois de várias décadas.
          Depois da mencionada sequência de averiguações e acertos na 5ª feira, principalmente de pneus, já na sexta feira apertamos o ritmo do desempenho, fazendo-nos acreditar que o Chico ( O calabrês voador ) poderia chegar próximo dos 1'30" para a volta, o que seria fantástico tendo em vista que o Avô 88 havia saído das pistas em 1972 com 1'28" baixo com pneus radiais aro 14 polegadas: não deu outra e o Chico após umas voltas e já bem próximo da calibragem ideal cravou 1'30"300'" na 6ª feira.
          No sábado ousamos de vez em retirar uma boa quantidade de ar dos pneus traseiros visando aquecer os mesmos.............e acertamos, pois no último treino e formação do grid, novamente o Chico baixa o tempo com 1'29"758'", o que há muito tempo não se via igual.
          As Baterias : Convencionamos que eu faria a 1ª bateria, ficando a 2ª para o Chico, que no ritmo que estava andando, poderia garantir na soma dos tempos a nossa vitória, caso eu não viesse a sair bem na primeira, visto que meus tempos eram mais lentos que do meu caro amigo por diversos fatores que em separado posso analisar com os amigos.
          Já havia "tocado" nestes últimos anos os Volvo da Eurobike em Tarumã e um VW Gol furioso que o Fleck me disponibilizou na pista do Velopark, além das "brincadeiras" com o meu Focus que teve sua potência aumentada de quase 30 HP, fazendo o mesmo ficar com desempenho forte : porém, aquele era o momento celestial do retorno às pistas para competir não contra relógio, e sim com adversários reais.
          A largada foi dada com Pace Car conduzindo um apreciável grid de 28 carros na Classic.
          Eu vinha rolando a pista com a 2ª marcha engatada e quando saiu o PC e foi dada a largada eu estava no auge das minhas satisfações em voltar a competir.
          De pronto, busquei a melhor aceleração e troca de marchas : como sempre, DKW tem que "limpar" as velas e aquecer os pneus, do que se aproveitou o Ratão, nosso mais forte adversário na categoria para abrir uns 100 metros de frente. Na segunda volta as velas secaram e os Yokohama aqueceram a ponto de largar no final da bateria, aqueles "spaghetinhos" de borracha característicos dos sliks, e eu me mandei na caça da carretera do Ratão, o que ligeiro aconteceu.
           Como a viatura do adversário é avantajada e ocupa bastante espaço na pista, estudei uma forma de ultrapassa-lo em condições seguras e achei de pronto : o neto 88 tinha maior velocidade final na chegada da 1 do que a carretera : comecei a preparar a ultrapassagem já na 9, caprichando seu contorno e entrando na reta dos boxes já grudado no Ratão, que não teve o que fazer de defesa, quando o neto 88 saiu do vácuo na metade da reta dos boxes e o ultrapassou por dentro na 1...........depois de 30 e tantos anos sentia o sabor gostoso de uma ultrapassagem calculada.
          Segui em frente e de pronto já estava ultrapassando um Chevette da categoria maior, que é lógico, não queria se deixar ultrapassar por dois anciãos sem oferecer resistência, e foi nesta de passa e ser passado nos envolvemos com uma "fusquéta", engrossando a "peleia" : o Ratão que vinha por perto, não se fez de rogado ; quando nos "entreveramos" entre a 1 a 2 o Ratão adiantou-se abrindo caminho para ultrapassagem, e da mesma maneira que ele foi cortez quando eu o ultrapassei, tive o mesmo comportamento com ele.
          Mais uma volta e continuávamos entreverados, com o Ratão logo na nossa frente se defendo das tentativas de ultrapassagem que sofria do neto 88, até que fomos alcançados pelos ponteiros da prova no contorno da 3 e freada do Laço. Achei que seria um bom momento de novamente tentar a ultrapassagem e no contorno da 3 acelerei para buscar o vácuo da retinha que antecede o Laço, quase me enfiando embaixo da traseira da carretera : o Ratão, por sua vez, se defende e traz a "barata" para dentro na 3.
          A esta altura era um "passa me passa te passo", e o Ratão traz com muita vontade a sua viatura para dentro da curva 4, atinge as lavadeiras e roda, quase me atingindo com a traseira da barata: estávamos uns 5 carros " engalfinhados " dentro da curva.
          Com o maior adversário distanciado pela rodada, aliviei um pouco o ritmo até vencer a bateria.
          Foi histórico, receber a bandeirada de chegada dada pelo nosso confrade Ibraim : o avô 88, agora travestido de neto 88 havia voltado do passado e vencido em sua primeira apresentação. Fantástico.................
          Rapidamente, o Teodoro e o Gabriel trocam os assentos de fibra, pois o meu para acomodar meu peso de 3 dígitos, fica uma "banheira" para o coitado do Chico.
          Afivelamos o " Calabrês voador" e lá se foi o Chico para a segunda largada, que aliás fez maravilhosamente bem e rápido, deixando para traz nosso principal adversário e foi em busca de "fusquétas" , Corcel e Chevettes da categoria imediatamente superior, marcando tempos excepcionais de 1'30" e uma até abaixo, quando se deparou com uma enorme poça de óleo derramado por algum concorrente na boca do Laço e aí não teve outra maneira : rodou no óleo juntamente com outro concorrente, apagando motor : imediatamente desligou a bomba elétrica para poder retomar a dar a partida.
          Para retomar a pista, era preciso desligar a bomba e acionar vigorosamente a partida: pois bem, ao levantar a chave da bomba de gasolina que abastece os carburadores,esta rompe-se na base punindo o Chico de ter uma bela e exitosa vitória na sua bateria. Assim mesmo, fomos ao pódio na posição 2, para nossa alegria e saudar o Ratão pela vitória na soma das baterias, como também pela sua lealdade e comportamento dentro da pista.
          Está contada assim, caros amigos, a história de um piloto de um carro histórico que é o neto 88, que por cortesia e desprendimento de amigos pode realizar o primeiro de seus sonhos de voltar a competir nas pistas.
          
Roberto Giordani.
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