Este blog destina-se ao contato entre pilotos da "velha guarda", preparadores e simpatizantes, à publicação do Jurassic News e para troca de comentários e emissão de opiniões pessoais.



















CAVALHADA - PEDRA REDONDA

Circuito Cavalhada – Pedra Redonda


      O crescimento e as necessidades viárias da Zona Sul de Porto Alegre, praticamente fizeram desaparecer grande parte daquele que foi o Circuito de rua, mais cobiçado para pilotagem de veículos de competição, na década de 50, até quase o final dos anos 60, que foi o Circuito Cavalhada/Pedra Redonda, cuja volta era de aproximadamente 15 quilômetros.
     Na época, a Europa exportava a idéia de circuitos longos como Nurburgring na Alemanha com mais de 20 quilômetros, Le Mans da França, SPA Francorchamps na Bélgica, estes dois últimos ligando cidades e retornando a um ponto de partida.
     Nestes quase 15 quilômetros de extensão da volta, os pilotos enfrentavam uma variedade incrível de pisos como paralepípedos irregulares, retangulares, cimento, cimento com bordas de pedras irregulares e abaloadas e o bom e seguro asfalto, desde que não estivesse coberto por terra ou barro, ou ainda pedriscos que eram trazidos das calçadas pelas chuvas.
     Como podem ver, correr assim era ato heróico e requeria muita perícia, o que nunca faltou naqueles bravos pilotos que fizeram do Circuito um verdadeiro palco de exibições fantásticas, de perícia e arrojo, duelos inesquecíveis ao pilotarem máquinas potentes para a época, porém sem a mesma grandeza em freios, pneus e segurança do piloto como estrutura resistente a capotamento, macacões e capacetes que protegiam de fogo ou choques violentíssimos.
     Caberia aqui falar das principais viaturas que por lá desfilaram, que foram as Carreteiras, porém, prefiro recomendar a leitura de um honesto e correto livro a respeito destas viaturas que é o “Levantando Poeira“ escrito por Gilberto Menegaz.
     Necessário se faz, entretanto, que se faça um pequeno histórico das competições que consagraram nosso circuito:
     Vivia o Rio Grande naquela época uma fase de sucessos e liderança no automobilismo perante o Brasil, pois as corridas aqui movimentavam milhares e milhares de pessoas para assistirem, fora evidentemente os espetáculos propiciados pelas competições em estradas ou circuitos dentro de cidades; estas, principalmente do interior do Estado, tinham orgulho de seus filhos pilotos, que por suas vezes ostentavam garbosamente o nome da cidade de nascimento pintado no carro.
     E não eram somente as carreteiras as estrelas: havia Volks (cascudo) equipados com motores Porsche, marcas como Jaguar, Dodge Cunningan, Simca Aronde, DKW’s e outras admiráveis máquinas de competição.
     Vinham os gaúchos, de retumbantes vitórias no circuito de Interlagos, em São Paulo, nos anos de 1956 e 1957 nas 1ª e 2ª Mil Milhas Brasileiras, com Catarino Andreatta /Breno Fornari na primeira e Orlando Menegaz/Aristides Bertuol na segunda; mas também levamos um verdadeiro “passeio” em 1957, dado pelo argentino Juan Galvez aqui mesmo na Pedra Redonda, quando veio com uma carreteira Ford 1937 parecendo mais um carro de passeio (até usou pequenas calotas nas rodas), que andava uma barbaridade e nem muito ruído fazia pelo escapamento; perguntado a Galvez o que fazia andar tanto sua carreteira ele deixou registrada uma famosa frase que serviu como lição aos nossos preparadores: “Hay que sacar hierro” indicando que era necessário retirar todo o peso possível tornando a viatura mais leve, propiciando melhor retomada de velocidade nas saídas de curvas e facilitar a velocidade final.
     Eis que no ano de 1958, o circuito da Cavalhada/Pedra Redonda entra de vez nos circuitos nacionais e internacionais. Com as duas vitórias seguidas em Interlagos, os pilotos paulistas acirram uma rivalidade já existente por outros fatos do passado, querendo de qualquer jeito uma desforra das duas surras que levaram nas Mil Milhas; por sua vez, nossos pilotos estavam com o “passeio” do Galvez entalado na garganta.
     Surge a idéia de realizar um grande “tira-teima” fazendo realizar uma prova em Porto Alegre, naquele que a partir de 1958 até 1968 seria o circuito do desafio, ou seja: o da Cavalhada/Pedra Redonda.
     Os pilotos? Foram convidados pilotos paulistas como Camillo Cristófaro( O Leão do Canindé), Chico Landi, Celso Lara Barberis e outros; da Argentina, Juan Galvez e Felix Peduzzi e do Uruguay, Rômulo Buonavoglia que eram as expressões do momento.
     Do Rio Grande uma enormidade de inscrições: Bertuol, Menegaz, Andreatta, Aldo Costa, Camozzatto, Haroldo Dreux com Volks/Porsche, Diogo Ellwanger, José Azmuz, Ítalo Bertão e outros, em um total de 19 inscritos.
     A prova? 1º 500 Klm. Cidade de Porto Alegre, que desde esta sua primeira edição em 1958 foi cercada de sucessos e emoções em todas suas edições, até a última em 1968.
     A corrida foi fantástica: Bertuol e Menegaz vieram com poderosos motores V8 Corvette, para enfrentarem os similares de São Paulo e as “feras” argentinas Galvez, ainda com Ford Edelbrock, mas andando uma barbaridade e Felix Peduzzi com tradicional motor Chevrolet de 6 cilindros em linha e equipamento Wayne.
     Com lances de muita emoção, o mais espetacular foi a furiosa disputa pela primeira posição, feita entre as carreteiras 4 de Bertuol e 24 de Menegaz, que simplesmente foram para a ponta e não deram chances aos demais, com Menegaz fazendo uma volta com média um pouco superior aos 140 Km/hora.
     Por sua vez os demais também nada pouparam, indo fundo no pedal da direita.
     Uma espetacular capotagem do argentino Felix Peduzzi na entrada da Praça da Tristeza, o faz rolar por diversos metros, no ar, passando por cima de faixas de propaganda afixadas na praça, sem tocá-las.
     Menegaz, Bertuol, Ellwanger, Galvez e todos de São Paulo quebram suas viaturas.
     O arrojo e a tocada forte, cobraram muito caro, pois somente 6 competidores chegaram ao final, com vitória de Nactivo Pedro Camozzatto que apesar de ótimo piloto, não tinha equipamento para enfrentar os velozes ponteiros.
     Dez anos após, em 1968, na edição da mesma prova gloriosa de 1958, dois consagrados pilotos de São Paulo conseguem a desforra e vencem a última Prova disputada no glorioso circuito da Cavalhada/Pedra Redonda; são eles, o mega campeão brasileiro Chico Landi e a jovem revelação como piloto, Jan Balder. Alinham uma viatura marca BMW com motor de tão somente 2 litros de cilindrada, mas com excelente preparação, freios a disco nas quatro rodas, e batem todos competidores, chegando Vitório Andreatta em segundo, Heinz Iwers com DKW Malzone em terceiro e Chico Feoli com DKW em quarto, ambos DKW’s equipados com um pequeno motor de apenas 1000cc de cilindrada, confirmando a derrocada das carreteiras.
     Esta última apresentação no grande palco que foi o Circuito da Cavalhada na Zona Sul de Porto Alegre, havia também assinado o “fim da era das carreteiras” no Brasil.
     Diversas delas, hoje, repousam inteiras e agradáveis de serem vistas, no Museu do Automóvel Brasileiro, na cidade de Passo Fundo, onde seu Diretor e principal mentor deste acervo é um abnegado piloto de nome Paulo Trevisan.
     Na próxima oportunidade, contaremos as histórias de outro circuito fantástico da Zona Sul, que foi o da Cavalhada/ Vila Nova.
     Até lá amigos.

     Roberto Giordani.